“A Princesa do Castelo Sem Fim”, de Shintaro Kago, é uma obra que se destaca tanto pela sua originalidade narrativa quanto pela complexidade visual. Ambientada em um Japão feudal alternativo, onde Oda Nobunaga sobrevive à traição de Akechi Mitsuhide, o mangá explora realidades paralelas e um conceito de castelo que se ramifica infinitamente no tempo e no espaço. Essa premissa bizarra, que combina elementos de horror, thriller e comédia sombria, é típica do trabalho de Kago, conhecido por seu estilo “ero-guro” — uma fusão de erotismo, grotesco e nonsense.
A narrativa segue a Princesa Nou, esposa de Nobunaga, em sua busca por vingança contra Mitsuhide. Através de um castelo em constante mutação, que espelha as realidades divergentes dos dois rivais, Kago explora o conceito de fusão de mundos paralelos de forma visualmente impressionante. O uso de painéis espelhados e deformações corporais intensifica a sensação de desconforto e confusão, obrigando o leitor a revisitar páginas anteriores para captar nuances sutis da história.









Visualmente, “A Princesa do Castelo Sem Fim” é um espetáculo. A habilidade de Kago em criar cenários e personagens grotescos está em pleno vigor, resultando em algumas das cenas mais memoráveis de sua carreira. A edição, publicada pela Pipoca & Nanquim, é outro ponto alto, com uma qualidade de impressão que faz jus à arte detalhada e perturbadora de Kago.
Por outro lado, a complexidade narrativa e visual da obra pode ser desafiadora para leitores que não estão familiarizados com o estilo peculiar do autor. A história, que mescla realidades alternativas com elementos de horror e surrealismo, exige uma atenção cuidadosa aos detalhes. A trama intricada, repleta de simbolismos e jogos de perspectiva, pode se tornar confusa em alguns momentos, especialmente quando as realidades começam a se fundir de maneira abrupta.
No entanto, para aqueles que apreciam uma leitura experimental que desafia as convenções e estimula a reflexão, essa complexidade pode ser vista como um ponto forte, proporcionando uma experiência imersiva e única, sem temer o grotesco e o absurdo.